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Location: PORTO ALEGRE, RS, Brazil

Com 78 anos, professor desde 13MAR1961. Foi professor na Educação Básica em diversas Escolas (Jacob Renner, em Montenegro; São José e Pedro Schneider em São Leopoldo; Concórdia, Israelita Brasileiro e Júlio de Castilhos em Porto Alegre) cursos pré vestibulares (IPV, Arquimedes, CAFDR) e de Universidades como a PUC-RS, FAPA, UFRGS (coordenador do Curso de Química e diretor do Instituto de Química) ULBRA, UNISINOS (Coordenador do Mestrado e Doutorado em Educação; do Centro Universitário La Salle, em Canoas; do Programa de Pós Graduação em Educação da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (URI) no Campus de Frederico Westphalen e do Mestrado Profissional de Reabilitação e Inclusão do Centro Universitário Metodista – IPA. Foi professor visitante na Aalborg Universitete na Dinamarca. É Orientador de doutorado na REAMEC - Rede Amazônica Ensino de Ciência. É autor de livros — sete estão ainda em circulação – que fazem a abertura deste blogue Tem sido convidado como palestrante em todos os estados brasileiros e em alguns países. Mais detalhes em www.professorchassot.pro.br

Saturday, April 02, 2011

Porto Alegre * Ano 5 # 1703

Uma noticia que supera a qualquer pauta para abertura desta edição. No começo da noite de ontem a Clarissa faz um anuncio: está grávida.

Minha caçula, que ainda ontem referia aqui como uma abrilina, nos traz uma boa nova: ela e o Carlos, provavelmente em novembro, concretizam o sonho da Maria Clara, que dia 26 faz cinco anos, recebendo um irmão/uma irmã.

Celebramos muito felizes a saborosa e esperada novidade.

A primeira edição sabática deste abril que se inicia cumpre a tradição, há muito instituída aqui: sábado é dia de dica de leitura. No último, excepcionalmente, a edição se transformou em diário de viagem trazendo algo bonito de Bonito. A propósito, anuncio para amanhã, evocações do último fim de semana.

Mais recentemente, quando estava envolvido, junto com leitores, com a busca de um nome para o livro de memória, que celebra o meu 50tenário surgiu a ideia de aproveitar a ideia de ‘hologramas’. Batizado o rebento, dei-me conta que um livro que tinha resenhado no ‘finado’ Leia Livro, da Secretária de Cultura do Estado de São Paulo, tinha esse nome. Volto ao livro e resenha.

Em Um ponto no holograma - A história de Vidal, meu pai é um sumarento livro, no qual Edgar Morin, um dos mais reconhecidos sociólogos pós-moderno faz uma admirável tessitura de mais de quatro séculos da historia de sua família, para nos narrar a densa história de Vidal, seu pai.

MORIN, Edgar. Um ponto no holograma - A história de Vidal, meu pai. São Paulo: A Girafa Editora, 2006, 448p. [Preço sugerido: R$ 53,00] ISBN 85-89876-97-7

Edgar Morin, pseudônimo de Edgar Nahoum (Paris, 8 de Julho 1921), é um antropólogo, sociólogo e filósofo francês judeu de origem sefardita. Seu pai, Vidal Nahoum, era um comerciante originário de Salônica. Sua mãe, Luna Beressi, faleceu quando ele tinha 10 anos.

Ateu declarado, descreve-se como um neo-marrano. Estudou direito, história, filosofia, sociologia e economia. Em 1942, obteve a licenciatura em direito e em história e geografia.

Durante a Segunda Guerra Mundial, participou da Resistência Francesa. Em 1941, adere ao

Partido Comunista, «num momento em que se sentia, pela primeira vez, que uma força poderia resistir à Alemanha nazista». Entre 1942 e 1944, participou da Resistência, como tenente das forças combatentes francesas, adotando o codinome Morin, que conservaria dali em diante. A partir de 1949, distancia-se do Partido Comunista, do qual será excluído em 1951, por suas posições antistalinistas.

Pesquisador emérito do CNRS (Centre National de la Recherche Scientifique).. Autor de mais de trinta livros, entre eles: Introdução ao pensamento complexo, Ciência com consciência e Os sete saberes necessários para a educação do futuro. Sua obra mais conhecidaO método, teve seus seis volumes traduzidos e publicados no Brasil, pela editora Sulina de Porto Alegre. Esta obra tem sido referência para seminários em várias universidades brasileiras. É considerado um dos principais pensadores contemporâneos e um dos principais teóricos da complexidade. Diretor emérito de pesquisas do CNRS e fundador do Centro de Estudos Transdisciplinares da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais, ambos situados em Paris, onde reside.

Edgar Morin foi o primeiro conferencista convidado pelo ciclo de palestras "Fronteiras do Pensamento 2008" que acontece no Salão de Atos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Recordo tê-lo assistido em novembro de 1003 na Usina do gasômetro em Porto Alegre.

Não deve ser muito usual que um muito reconhecido sociólogo, antropólogo, historiador e filósofo se proponha a oferecer um livro acerca de sua família, mais especialmente de seu pai e também muito da sua, que não tem sempre as marcas da ortodoxia. Pois dia da morte de seu pai, Edgar Morin decidiu escrever um livro sobre ele. Vidal Nahoum foi um judeu sefardita, cujos antepassados remontam aos que muitos consideram o surgimento da cultura europeia.

Talvez pudesse iniciar perguntando aos meus leitores o que conhecem acerca de Salônica ou qual a identidade de salonicense. Se houve evocação às epístolas de Paulo aos tessalonicenses, a ligação está certa. Salônica (ou Tessalônica) hoje é a segunda maior cidade da Grécia; foi importantepelo menos 20 séculos. Ela é central em A história de Vidal, meu pai a partir do século 15. Em 1492, depois da queda da Granada, o Islã é rechaçado da Europa ocidental e a Espanha, então governada pelos reis católicos, Isabel e Fernando, impõe a judeus e muçulmanos o exílio ou a conversão. As dezenas de milhares de judeus que recusam a conversão ao cristianismo se espalharam pelo mundo. Com a diáspora dos sefarditas os judeus da Espanha espalham-se em pequenas comunidades rumo à Holanda, à Provença, mais amplamente rumo à África do Norte e sobretudo ao Oriente, Império Otomano adentro. Alguns se instalam nas cidades portuárias de Istambul, de Izmir e, principalmente, de Salônica, onde 20 mil deles desembarcam.

Esses judeus formam uma pujante comunidade, que por mais de quatro séculos conserva não apenas a judaica, mas a o uso do ladinolíngua ibérica semelhante ao castelhano falada por comunidades judaicas originárias da península Ibérica, também chamada de judeu-espanhol ou dijio –. Salônica foi, há um tempo turca, macedônia, italiana, grega e seus habitantes que usava como identidadejudeu salonicence’ ouisraelita do Levante’, e trocavam de nacionalidade com frequência.

Em 1894, Vidal Nahoum – um judeu sefardita –, pai de Morin, nasceu em Salônica, e atravessou as guerras balcânicas, a derrocada do Império Otomano, e as duas guerras mundiais. E é a partir de Vidal Nahoum e de Salônica que o historiador traça um panorama dos judeus sefarditas.

Permito-me um parêntesis [Numa simplificação: entre nós (e me refiro ao Rio Grande do Sul) os judeus se dividem em a.- asquenazis – são judeus originados da Europa Central (o chamado judeu-alemão), cuja língua é o iídiche { referido na resenha de “O Peregrino”} idioma baseado no alto-alemão do século 14, acrescido de elementos hebraicos e eslavos; e b.- sefarditas ou sefaradins – judeu descendentes dos primeiros israelitas de Portugal e da Espanha, que falam o ladino. No RS, a comunidade asquenazi é mais numerosa que a sefaradim]

Acompanhamos na trajetória do biografado a história da Europa do Século 20, onde as duas guerras, a holocausto dos judeus e as alterações de fronteiras dão o tom a uma narrativa emocionante. Acompanhar o pai em duas guerras e depois o filho como ativista na 2ª Guerra Mundial, quando a família vive na França é muito envolvente.

O livro é uma primorosa edição de A Girafa Editora. Há pequenas imprecisões do tipo ‘31 de novembroque parecem não comprometer o texto. A leitura de A história de Vidal, meu pai é facilitada por árvores genealógicas de duas famílias judias salonicenses: Nahum (ramo paterno de Edgar Morin) e Beressi (materno) e de uma cronologia detalhada de seis séculos (1391-1986). Esses dois anexos são bons facilitadores para balizamentos da narrativa, especialmente quando não se tem a desejada condição de fazê-lo por muitas horas seguidas.

É com entusiasmo que recomendo às leitoras e aos leitores deste blogue essa obra mais recente de Edgar Morim. A oportunidade de conhecermos como se deu e como se dá construções de identidades – e as lutas de dos homens e das mulheres para consegui-las, escondê-las, mantê-las – é provavelmente um dos pontos mais significativos desse livro. Também por isso vale lê-lo.

Um bom sábado a cada uma e cada um. Eu, dentro de mais um pouco, terei o privilégio de estar desse a Morada dos Afagos, por Skipe, com alunos de Prática Pedagógica III: Física no Ensino Médio na FACOS de Osório, orientados pelo José Fernando Cánovas de Moura.

Friday, April 01, 2011

Porto Alegre * Ano 5 # 1702

Se março foi fértil em celebrações profissionais, sob a égide de meu 50tenário de professor, abril é prenhe de comemorações familiares: três de meus seis netos são abrilinos; a Clarissa, uma de minhas filhas, faz aniversário em abril e a Gelsa e eu completamos neste mês 24 anos de uma história juntos. A tudo isso se adite que temos as celebrações pascoalinas.

Ao falar em Páscoa, aviva-se uma tese que tenho mais de uma vez discutido em minhas falas: religiosos ou não, vivemos imerso em um mundo religioso. Dou-me conta então, que estamos vivendo hoje em uma das sextas-feiras da quaresma; estas na minha infância eram prenhes de significados. Entre outras práticas nas sextas feiras se fazia abstinência de carne e se celebrava os piedosos exercícios da via-sacra, com pregadores que, às vezes, arrancavam lágrimas com narrares de algumas das 14 estações.

Escrevo usando o tempo verbal passado acerca dos dias quaresmais. Talvez algum leitor poderá referir como é no presente. Continuam havendo essas práticas? Por exemplo, ser hoje dia dos bobos, parece ser algo do passado. Os trotes de primeiro de abril, que ocorriam inclusive nas manchetes dos jornais, são démodé.

Parece, por vivermos dias quaresmais, ser oportuno dar voz a um dos mais respeitados teólogos brasileiros: Leonardo Boff. Assim, seguem suas reflexões sobre Compaixão: a mais humana das virtudes, mesmo sem entrar no mérito de o teólogo fazer algumas claudicantes investidas em teses que a Ciência tem como aceitas. Às reflexões adito meus votos de uma fruída sexta-feira quaresmal e que seja ponto de partida de um outonal abril

Três cenas aterradoras: o terremoto no Japão, seguido de um devastador tsunami, o vazamento deletério de gases radioativos de usinas nucleares afetadas e os deslizamentos destruidores, ocorridos nas cidades serranas do Rio de Janeiro, provocaram em nós, com certeza, duas atitudes: compaixão e solidariedade.

Primeiro, irrompe a com-paixão. A compaixão talvez seja, entre as virtudes humanas, a mais humana de todas, porque não só nos abre ao outro, como expressão de amor dolorido, mas ao outro mais vitimado e mortificado. Pouco importam a ideologia, a religião, o status social e cultural das pessoas. A compaixão anula estas diferenças e faz estender as mãos às vitimas. Ficarmos cinicamente indiferentes, mostra suprema desumanidade que nos transforma em inimigos de nossa própria humanidade. Diante da desgraça do outro não há como não sermos os samaritanos compassivos da parábola bíblica.

A com-paixão implica assumir a paixão do outro. É transladar-se ao lugar do outro para estar junto dele, para sofrer com ele, para chorar com ele, para sentir com ele o coração despedaçado. Talvez não tenhamos nada a lhe dar e até as palavras nos morram na garganta. Mas o importante é estar aí junto dele e jamais permitir que sofra sozinho. Mesmo que estejamos a milhares de quilômetros de distancia de nossos irmãos e irmãs japoneses ou perto de nossos vizinhos das cidades serranas cariocas, o padecimento deles é o nosso padecimento, o seu desespero é o nosso desespero, os gritos lancinantes que lançam ao céu, perguntando, “por que, meu Deus, por que?” são nossos gritos lancinantes. E partilhamos da mesma dor de não recebermos nenhuma explicação razoável. E mesmo que existisse, ela não desfaria a devastação, não reergueria as casas destruídas nem ressuscitaria os entes queridos mortos, especialmente as crianças inocentes.

A compaixão tem algo de singular: ela não exige nenhuma reflexão prévia, nem argumento que a fundamente. Ela simplesmente se nos impõe porque somos essencialmente seres com-passivos. A compaixão refuta por si mesma noção do biólogo Richard Dawkins do “gene egoísta”. Ou o pressuposto de Charles Darwin de que a competição e o triunfo do mais forte regeriam a dinâmica da evolução. Ao contrário, não existem genes solitários, mas todos são inter-retro-conectados e nós humanos somos enredados em teias incontáveis de relações que nos fazem seres de cooperação e de solidariedade.

Mais e mais cientistas vindos da mecânica quântica, da astrofísica e da bioantropologia sustentam a tese de que a lei suprema do processo cosmogênico é o entrelaçamento de todos com todos e não a competição que exclui. O sutil equilíbrio da Terra, tido como um superorganismo que se autoregula, requer a cooperação de um sem número de fatores que interagem entre si, com as energias do universo, com a atmosfera, com a biosfera e com próprio o sistema-Terra. Esta cooperação é responsável por seu equilíbrio, agora perturbado pela excessiva pressão que a nossa sociedade consumista e esbanjadora faz sobre todos os ecossistemas e que se manifesta pela crise ecológica generalizada.

Na compaixão se dá o encontro de todas as religiões, do Oriente e do Ocidente, de todas éticas, de todas as filosofias e de todas as culturas. No centro está a dignidade e a autoridade dos que sofrem, provocando em nós a compaixão ativa.

A segunda atitude, afim à compaixão, é a solidariedade. Ela obedece à mesma lógica da compaixão. Vamos ao encontro do outro para salvar-lhe a vida, trazer-lhe água, alimentos, agasalho e especialmente o calor humano. Sabemos pela antropogênese que nos fizemos humanos quando superamos a fase da busca individual dos meios de subsistência e começamos a buscá-los coletivamente e a distribui-los cooperativamente entre todos. O que nos humanizou ontem, nos humanizará ainda hoje. Por isso é tão comovedor assistir como tantos e tantas se mobilizam, de todas as partes, para ajudar as vítimas e pela solidariedade dar-lhes o que precisam e sobretudo a esperança de que, apesar da desgraça, ainda vale a pena viver.

Este texto está postado em www.amaivos.com.br Para conhecer mais o autor, acesse: http://leonardoboff.wordpress.com e www.leonardoboff.com